Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Em tempos de COVID-19, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) alerta para a importância de manter em dia a vacinação de rotina. A medida também é recomendada por instituições como o Ministério da Saúde (MS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
A rápida escalada e a disseminação global da COVID 19 são uma grande preocupação. Um número crescente de países tem colocado em prática medidas de saúde pública para limitar a transmissão do vírus, afetando, conseqüentemente, serviços de saúde, incluindo a imunização.
Esse cenário traz com ele o risco da descontinuidade da vacinação rotineira. Tanto por conta da carga relacionada à COVID-19 sobre o sistema de saúde quanto da diminuição da demanda em função do distanciamento social necessário e de uma possível relutância da comunidade em se vacinar.
Segundo a OMS, a descontinuidade — mesmo que por breves períodos, — aumenta o número de indivíduos suscetíveis e a probabilidade de surtos de doenças evitáveis por vacinas. As conseqüências são o crescimento da morbidade e mortalidade, em especial em lactentes e outros grupos vulneráveis, e a sobrecarga dos sistemas de saúde já sobrecarregados diante da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Embora a complexidade e o alcance global do isolamento social obrigatório e necessário em resposta à pandemia de COVID-19 sejam sem precedentes para a economia e para a saúde pública, a OMS considera imperativa a manutenção dos serviços de imunizações em localidades onde o serviço possa ser realizado em condições seguras.
Da mesma forma, o Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), afirma no Ofício Nº 173/2020/CGPNI/DEIDT/SVS/MS que a vacinação deve ser considerada um serviço de saúde essencial e imprescindível que não deve ser interrompida. E orienta aos serviços de vacinação que obedeçam as diretrizes nacionais sobre distanciamento social e considerem a situação local de carga de doenças imunopreveníveis, no contexto da transmissão local pelo SARS-CoV-2 (sem casos, casos esporádicos, conglomerados ou transmissão comunitária), além de outros fatores, como dados demográficos e a disponibilidade de vacinas e insumos.”
As Sociedades médicas podem e devem contribuir com o Ministério da Saúde na busca de estratégias que conciliem a manutenção das coberturas vacinais e o necessário e fundamental isolamento/distanciamento social.
A SBIm, em conjunto com a SBP, publicou recentemente uma nota técnica na qual sugere algumas estratégias nesse sentido. No cenário da COVID-19, cada dia é um dia de aprendizado e de novas recomendações. Nos planejamentos a curto, médio e longo prazo, as imunizações precisam ser fortemente consideradas para que o retorno de doenças potencialmente graves que podem ser evitadas por vacinas não seja mais uma herança negativa da pandemia.
Riscos da não vacinação rotineira
- Altas coberturas vacinais são fundamentais para a manutenção do controle ou eliminação de enfermidades que antes foram causas comuns de doença, hospitalizações e óbitos no Brasil.
- Doenças imunopreveníveis podem sobrecarregar sem necessidade o sistema de saúde, seja por conta da necessidade de hospitalização prolongada ou confusão diagnóstica. A possibilidade da COVID-19 cursar com exantema, por exemplo, pode ser motivo de dúvidas no diagnóstico diferencial com sarampo e dengue.
- Não há vacina para a COVID-19, mas pessoas de alto risco para a COVID-19, em geral, também são de risco para outras infecções preveníveis por vacinação. Baixas coberturas vacinais colocam essas pessoas em risco ainda maior.
- Em 2016, ano em que tivemos uma maior carga de influenza no Brasil, foram registrados 12.174 casos de síndrome respiratória grave (SRAG) e 2.220 óbitos causados pela influenza. A média anual de óbitos por influenza no Brasil é de 900 casos, cerca de 60-70% em pessoas com fatores de risco.
- O sarampo já foi uma das principais causas de mortalidade infantil no país. Em 1986, ano da maior epidemia da década de 1980, foram notificados 129.942 casos de sarampo, o que representou uma incidência de 97,7 por 100.000 habitantes. Em 1992, após uma Campanha Nacional de Vacinação, houve queda de 81% no número de casos notificados: de 42.934 em 1991 para 7.934 em 1992.
A diminuição de nossa cobertura vacinal permitiu que, em 2018, o Brasil registrasse mais de 10 mil casos e perdesse a condição de eliminação do sarampo, obtida em 2016. Em 2019, o surto se expandiu e mais de 18.000 casos da doença foram confirmados. Em 2020, alguns estados, especialmente Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná ainda vivem o surto da doença.
- O sarampo é doença extremamente grave que interfere na imunidade do indivíduo, o que pode aumentar a chance de outras infecções, inclusive pelo novo coronavírus.
- A febre amarela também demanda atenção especial, principalmente na Região Sul do país, onde já foram confirmados mais de 150 casos em macacos (epizootias) em 2020. Em 2017/18 vivemos a maior epidemia da doença de nossa série histórica desde 1980, no período de 01/07/2017 a 30/06/2018 foram notificados 7.518 casos, sendo 1.376 confirmados e 483 óbitos. Mais uma vez, a baixa cobertura vacinal foi fator primordial para isso. 8. Outras infecções também são potencialmente graves e preveníveis por vacinas, como doença pneumocócica, doença meningocócica, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, diarreia por rotavírus, varicela, hepatite B, hepatite A, formas graves de tuberculose, doenças causadas pelo HPV.
O isolamento/distanciamento social deve ser respeitado Sem dúvidas, diante da situação que vivemos hoje com a pandemia da COVID-19, os riscos que representa para o país e a necessidade que se impõe de isolamento social como estratégia mais eficaz no controle da expansão da doença, são enormes os desafios nas imunizações: manter a vacinação de rotina, a campanha nacional de vacinação contra a influenza e a segurança, tanto de quem vai se vacinar, como dos profissionais da saúde envolvidos.
Estratégias Cada país precisa avaliar seus riscos epidemiológicos e as condições estruturais do sistema de saúde para realizar a vacinação de forma segura. Essa é a discussão atual em todo o mundo e, para a tomada de decisão, alguns fatores devem ser considerados:
- A vacinação é um serviço de saúde considerado essencial e prioritário. Todo esforço para a manutenção da vacinação rotineira e consequentes coberturas vacinais devem estar entre as prioridades das autoridades de saúde pública.
- A vigilância epidemiológica das doenças preveníveis por vacinas deve ser mantida, assim como a da COVID-19.
- Toda estratégia de vacinação (rotina ou campanhas) deve considerar a obrigatoriedade do distanciamento social e outras medidas preventivas para a COVID-19, como aquelas que permitam evitar aglomerações, contato entre pessoas doentes e saudáveis, bem como as boas práticas de higiene individual e coletiva devem ser mantidas e reforçadas.
- Estratégias alternativas para a realização da vacinação devem ser avaliadas no contexto local e adaptadas de forma a garantir a segurança dos trabalhadores da saúde e da comunidade. Entre elas:
- Reforçar estratégias de distanciamento, especialmente de idosos e pessoas que vivem com doenças crônicas.
- Estimular fortemente a vacinação de rotina ou mesmo as de campanhas em ambientes alternativos, como escolas, clubes e igrejas ─ áreas ociosas neste momento. Na impossibilidade disso, colocar os pacientes que procuram por vacina de rotina em outros ambientes, logo na chegada, para não permanecerem na mesma sala com a população em geral.
- Estipular horários diferenciados para a vacinação de rotina, em especial para as crianças.
- Estimular vacinação domiciliar de crianças ou outros grupos de risco.
- Otimizar o calendário de vacinação, com a aplicação do maior número de vacinas possível na mesma visita, desde que se respeite o intervalo mínimo entre as doses e, se for o caso, entre vacinas.
- Orientar a população para que não busque a vacinação na presença de sintomas respiratórios ou febre, e que, nesse caso respeitem o período de 14 dias do isolamento antes de voltar ao serviço de vacinação.
Juntos podemos enfrentar o desafio de manter nossas coberturas vacinais e não permitir o retrocesso de todas as conquistas obtidas!
Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações – SBIm