Os novos desafios da vacinação no Brasil

O Site Outras Palavras publicou artigo com entrevista da Dra. Mônica Levi, falando sobre os novos desafios da vacinação no Brasil.

Embora o Brasil possua diversos aspectos que precisam ser alvo de cuidados do governo e da população em relação às doenças e às vacinas, a Dra. Mônica celebra a retomada das coberturas vacinais, que estavam em declínio nos últimos anos.

Entre outras informações, a Dra. Mônica falou sobre o sucesso do microplanejamento, desafios da vacinação contra a Covid-19, importância da produção nacional de vacinas, combate à desinformação, impacto das mudanças climáticas e o papel da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) na promoção da vacinação e na atualização dos profissionais de saúde.

Confira a entrevista abaixo:

Como você enxerga a retomada de taxas mais altas de cobertura vacinal? O que isso diz a respeito do Plano Nacional de Imunização sob o atual governo?

Estamos muito animados com os resultados de tantas ações que foram direcionadas pelo governo, de acordo com a prioridade de retomar coberturas vacinais. Foi um congresso com grande foco nas campanhas de imunização. Houve investimento, organização pessoal, compra de vacinas e reuniões com os estados e municípios. Foi muito positivo porque o Brasil estava na lista dos 20 países com menor cobertura vacinal em crianças do mundo. Agora, já saímos da lista e aquela curva de decréscimo progressivo das coberturas vacinais foi revertida.

Estamos muito mais próximos das metas, que costumam ser de 95% da população alvo, às vezes 90%. Graças a Deus temos tido o incentivo, ações certeiras, estratégias corretas. O atual governo acertou ao usar uma estratégia de microplanejamento, ao agir de acordo com cada realidade do Brasil, ver as dificuldades, os obstáculos, mapear os líderes que a população local seguia e ouvia (religioso, comunitário, um artista). Foi feito um trabalho junto com essas pessoas influenciadoras, não só da parte da saúde e a adoção de estratégicas customizadas, digamos assim, foi certeira.

Houve muita dedicação da coordenação do nosso Plano Nacional de Imunização, sob comando do doutor Eder Gatti e gestão de microplanejamento com a Ana Catarina e mais algumas pessoas o seguiram. Eles andaram o Brasil inteiro, fizeram reuniões com gestores locais de saúde e foi assim que se criaram as estratégias. Deu e segue a dar certo.

Sem dúvida, a doença mais relevante em termos de debate público e sua relação com a campanha de imunização é a Covid-19, que ainda existe. Como analisa a abordagem do Estado brasileiro em relação à vacinação de covid-19? Houve algum descuido na manutenção da sua oferta?

A adesão à vacina de covid-19 está muito baixa. Com a enorme epidemia de dengue o foco diminuiu, pois é difícil desenvolver estratégias de comunicação para tantas doenças ao mesmo tempo. Estamos num momento onde o governo focaliza o combate ao HPV e a eliminação do câncer de colo de útero, com extensão da vacinação até 19 anos… Pois apesar de se recomendar a vacinação antes, a estratégia é ir atrás de adolescentes de 15 a 19 anos que perderam oportunidade e neste semestre, com a baixa da dengue, podem tomar tal vacina.

Há outro aspecto relativo à covid: a população se cansou de vacinar, é uma realidade. As pessoas contam 4, 5 ou 6 doses e param. Mas é importante alertar que o coronavírus ainda é uma das infecções respiratórias que mais mata. Muita gente se preocupa com doenças que numericamente matam muito menos do que a Covid. E os grupos-alvo não estão aderindo bem à vacinação, cuja proteção é curta. Não é uma imunização vitalícia, como sarampo, catapora, que só se pega uma vez na vida. Covid e influenza são como pneumonia: é possível ter várias vezes na vida. É precisa entender que a vacina evita as formas graves da doença.

Existem diversas pesquisas para entender porque o brasileiro deixa de tomar determinada vacina e uma explicação central é que quando a doença está eliminada ou controlada, a pessoa não se sente ameaçada de uma maneira grave e deixa de se imunizar. No momento, ainda se soma um monte de fake news nas mídias, nas redes sociais e em todos os lugares, vemos muita gente que se preocupa mais com os malefícios imaginários do que os benefícios comprovados.

A covid merece mais atenção agora, pois não tem uma sazonalidade demarcada, pode ter picos variados. Agora tem um momento de maior incidência, junto com a influenza B que subiu de novo, enquanto caíram bastante a influenza A e o vírus sincicial respiratório (VSR). Como eu disse, é difícil fazer nova campanha nacional de covid, de maneira que talvez a estratégia ideal seja a busca de grupos prioritários. Como disse, não é fácil organizar várias campanhas ao mesmo tempo. Penso que as crianças estão muito pouco vacinadas, o percentual de crianças abaixo de 5 anos vacinadas é pequeno e as doses devem ser anuais. Agora temos a vacina monovalente XBB para os prioritários e a adesão está baixa. Aliás, devemos salientar que não se trata de dose de reforço e sim uma vacinação regular do calendário. Deve ser tomada anualmente. E até os idosos, que vinham com altas coberturas, reduziram sua adesão. É um problema a enfrentar.

Leia a entrevista na Íntegra, no site Outras Palavras: https://outraspalavras.net/outrasaude/os-novos-desafios-da-vacinacao-no-brasil/